sexta-feira, setembro 12, 2008

Diário de um Toxicômano - dia 1




Vou tentar, a partir de hoje, largar dois vícios. Dizer tentar já revela que tenho dúvidas sobre essa decisão. Mas é preciso tentar, acho que é isso que tem me feito mal. Os que me acompanham sabem que sou chegado mais ao porre do que ao chopp do fim da tarde. Mas isso nunca se apresentou como um problema na minha formacao. Até porque, até onde minha memória alcança, em todos os porres pude extrair algum tipo de conhecimento.

O que tem apresentado como um problema real são as grandes quantidades de fumaça que tenho absorvido. E é nesse momento em que escrevo que esgotou a minha dose diária de cigarros: três, comprados no boteco da esquina. Quando se toma uma decisão é preciso ser rigido, e nem mesmo as noites molhadas num vinho barato e água não podem ter como companhia seu amigo mais fiel. Tenho me esforçado para nao adquiri-los em grupo, mas esse esforco que é tudo na vida às vezes cansa e sinto a vontade de me jogar nesse poço sem fundo, me afundar nessa dor incontrolável que aperta o peito. E é justamente para nao dar vazão a ela que quero parar de encontrar esses amigos que chegaram devagarzinho nos últimos anos até sentar ao lado da minha alegria e se instalar nas veias do meu corpo. Trâs cigarros, duas goladas no vinho, agua. A noite e fria, a luz também. O corpo arde.

Outro amigo também precisa se despedir. Com esse mantenho ligação estreita desde o feitiço da morena dos cabelos de ouro. Antes dela a forte sensação de expansão do corpo: membros inferiores agigantados pisando em falso ao som das cigarras a lua. A cabeça parecia tocar a copa das árvores e demorei a voltar a experiência. Mas foi a Dourada quem me acostumou a calmaria gostosa da paixão a que me apeguei fortemente.

Ela foi embora e é lembrança, mas esse amigo acompanhou me até agora. Hoje é o primeiro dia em que não guardo mais pedras no caminho. A meta é não emprestar-lhe nenhum dinheiro.

Mas é quando chega a noite que me questiono o porquê não consigo me controlar devidamente. Porque esse limite me parece um esforço sobre humano. Porque sempre acho que viver é um esforço, sera que é possível não brigar com Deus e comigo mesmo a cada instante, a cada tropeço no caminho? Mas ausentar me de viver isso intensamente tambem não vou. Mas o limite quem dá primeiro a mim mesmo sou eu, antes que outro veha e faca isso.

Mas a escuridão e a solidão são um perigo. Acabam o cigarro, o vinho, só resta água, a luz fria, um papel e uma caneta. A cabeça fervilha no travesseiro em fogo e se perde nos mais devassos pensamentos retirando o sono, que não vem. O corpo cansado não consegue dormir e a falta dos amigos me dominam essa hora da noite. Agora, é preciso exercitar a calma. Água. A noite faz frio e o dinheiro acabou.