quarta-feira, setembro 17, 2008

Diário de um Toxicômano - dia 03




Tudo parece ir bem. De repente sinto menos denso o meu e a respiração melhora. Sou um otimista. Curiosamente nas últimas noites tenho dormido bem, não passando das duas da manhã. Para acordar tem sido mais fácil, fiz as pazes com a cama e ele não insiste para me manter no seu colo, ao contrário: expulsa-me com prazer para um dia de trabalho. De dia fez sol, tenho me sentido melhor. A meta é a concentração e a atenção total parece ser quase um fato concreto, uma possibilidade real a se conquistar. De quebra, ainda recebi uma encomenda de um conto para um jornal e já iniciei. De repente tudo parece ir se ajeitando, não esperava me sentir tão bem. Mas é claro que não parei totalmente, mas hoje pela primeira vez passarei o dia inteiro sem fumar o meu calmante. O sangue corre nas veias levando apenas a dose de 3 cigarros. E não tenho passado disso. metas. Parece dar certo.

O conto que escrevo é sobre um jovem carioca perdido entre o niiliesmo latente e sua profunda preocupação social, colocando-se em sitauções de risco em busca de expressões vitais mais latentes. Nenhuma dificuldade para criar, embora me faça falta algumas companhias entre os dedos. Arrumei e varri a casa que estava uma zona. Fiz exercícios físicos, fui a rua, voltei, depois fui de novo em busca de ar fresco.

Foi descendo a rua que me lembrei do meu repúdio ao fumo, principalmente depois do cateterismo de minha mãe. Fiquei morrendo de medo da sala de cirurgia, lembro que chorei muito quando ela me falou que ia fazer uma intervenção no coração. Fiquei extremamente desesperado e foi a primeira vez que pensei concretamente na possibilidade da morte da minha mãe. As horas em que ficamos longe foram horríveis e lembro perfeitamente que minha madrinha ficou no quarto enquanto eu perambulava pelos frios corredores daquele grande hospital velho, tentando disfarçar de mim mesmo as lágrimas, o frio na barriga e o aperto no meu coração.

Se eu nasci e não precisei deles, devo retornar à esse passado.