sexta-feira, abril 16, 2010

Recortes de um fim de mundo 2 - Exílio

O tédio de ver o sol nascer quadrado foi substituído pelo temor de vê-lo encoberto durante dias. A cela ficava cada vez mais fria, e os prisioneiros que outrora batiam nas grades e gritavam, agora deitavam gélidos e famintos pelos cantos do pequeno espaço que lhe cabiam. Na cela de número 7, o corpo franzino de um deles (e que até ontem maldizia a sociedade por ser inocente) começava a apodrecer.
Quando a nuvem baixou de vez, estavam certos de que morreriam de fome, esquecidos. Fazia dias que ninguém aparecia por lá. Mas estavam errados. Seguido à nuvem veio a chuva que durou sete dias ininterruptos, causando destruição por toda a cidade. Mas eles não viram isso. Não viram destruição e não ouviram gritos. Morreram afogados no primeiro dia da enchente.

2 comentários: