sábado, julho 19, 2008



Meu caro,
Aviso que vou escrever pouco. É que a Grande Metrópole funde a cabeca de qualquer um.
Dessa vez não vim pelos ares, descendo em meio aos prédios residenciais que quase invadimos pela janela. Vim pela terra, seis horas de viagens com pessoas muito diferentes. Ao meu lado sentou um senhor que não abriu a boca nem pra pedir licenca para ir ao banheiro. Na diagonal traseira sentaram duas jovens que estabeleciam contato visual constantemente. Na parte traseira, uma família de mudanca, com várias criancinhas. Todos nós, com objetivos diferentes, dentro do ferro que ruma para o desconhecido.
Nos meus primeiros dias vivi uma espécie de hiper-excitacão. É a primeira vez que venho para ficar mais tempo e com ele livre para escolher o que fazer. E andei. Andei muito pela cidade, pela Paulista e por ruas em que fui me metendo. Fui em galerias, visitei exposicões, e andei. Aqui existem muitas intervencões artísticas de várias maneiras e em diversos lugares. Me veio o pensamento de que, enquanto nós podemos contemplar a natureza, mesmo no centro da cidade existe alguma beleza natural, aqui não há nada disso. E talvez por isso tantas intervencões, com tão pouca criticidade. Aqui tudo se leva muito a sério, mas os artistas que falam muito estão mudos. O concreto, a mais dura das realidades. Eu sou terra lancada ao ar. Sinto falta do horizonte, ao mesmo tempo que ganho forcas para andar de cabeca erguida.
Mas agora, no sexto dia, estou que sou nada, sou pasta amassada ao chao que nao consegue sequer mover-se para o sol na parte externa da casa.
Aqui estou peregrino. Dormi as primeiras noites na casa de amigos e agora estou sozinho em uma casa que me faz sentir casa. A porta faz o mesmo grande barulho que a minha quando abro. A dona trocou comigo e foi passar uns dias na minha caverna carioca. Árvore na parte da frente, Árvore na parte da trás, faco os cheiros que quiser em plena liberdade que alonguei o café da manhã para lhe escrever esse e-mail. Embaixo mora um artista plástico que faz luminárias incríveis.
Você deve ter percebido que o teclado está sem o cedilha.
Barbieri manda lembrancas.
Agora preciso sair.
Preciso respirar.
R.