terça-feira, dezembro 18, 2007

Ausência

1. Largo da Carioca - 12:01

Bradou novamente:

"Não é mentira que tenho trezentos anos. E durante esse tempo vi o mundo se modificar. Vi populações que se desenvolviam morrerem. Vi tradições antigas se extinguirem. Vi o homem se transformando em máquina. Vi leis morais se transformarem em leis de contenção. Vi a libido ser desviada para a violência repressiva. Vi sociedades do bem-estar se transformarem em Estados Penais. Vi a morte e conversei com ela.
E ela me disse que cabe a nós mudar todos os paradigmas, aqui e agora. Cabe a nós restituir o que o homem perdeu. Já!
Eu comecei.
Quem terá, também, a coragem de começar?"

Assim falou Darcy.

Ao que todos aplaudiram calorosamente.

Ao que o poodle agradeceu, abaixando a cabeça, depois sorrindo.

E o solitário Darcy e o poodle se encararam pela primeira vez.

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2.

Raoni: 2 de dez
Ontem saiu uma reportagem no Globo sobre a saga dos Sertões nos sertões.
Ainda que muito superficial, pois essas jornalistas sempre tendem a ver tudo de maneira exótica, realçando assuntos como a nudez que choca os espectadores sem discutir o porque disso e sem realçar o importantissimo fato de deslocar o espetaculo de SP para o interior do Ceará.
Fiquei imaginando o oficina se dividindo, metade voltando e metade ficando e ocupando Canudos e os sertões sobre a batuta do Dionisio Ze Celsiano inaugurando uma nova era no interior do nordeste brasileiro e inundando de cultura e sendo influenciado por nossa gente.
Imagine só: uma nova revolucao começando no interior do Ceará, uma revolução cultural e economica no cerne do problema!

Thiago: 4 de dez
Raoni, voltei muito devastado de Canudos. Fiz o percurso do Conselheiro: saí de Quixeramobim, onde nasceu e cheguei onde morreu. O que renasceu e vive, dele, de mim? Depois dessa experiência dos sertões nos sertões, me pergunto o que ainda pode ser feito. Eu sei, está tudo aberto, páginas escancaradas, e é por isso que te escrevo no orkut. Sei, sim, do tanto a se fazer a partir dessa conquista, de desregionalização, do necessário encontro do Brasil com Brasil, sem ilustrações ou domestificações. O Brasil precisa de mão gentil depois de 5 séculos de catequese sangrenta, tropas de elite, cinturão de morros cariocas ou de muro na av. Paulista. Estou vazio vazio. Mas dizem que é o primeiro passo para encher, não é? Em deserto, em sertão, em voz incerta. Meu amigo, gritamos pouco juntos, perdoa insistir na nostalgia.
Troquemos sorrisos cheios de desespero e dor. A alegria se esconde é nessas ranhuras mesmo. O tempo me parece grande e rico demais a se insinuar, oceânico, na minha frente, mas em tamanha rapidez que é como se eu não pudesse sonhá-lo construir.
Que nos escape o mínimo das mãos, e o que pender em nossos dedos e palmas que vire manjar, que vire nossa delícia, nosso alimento urgente e degustativo.
Abraço, querido. Bom motivo sempre para visitar o Rio.

Raoni: 2 min atrás
Escrevi um trabalho sobre o Schiller e "as cartas para a educação estética da humanidade", em que ele coloca que a liberdade é o livre jogo das potencialidades humanas - razão e emoção - e que para a verdadeira liberdade acontecer é preciso reformular toda a sociedade e seus meios de produção. o problema é que ele escreve a três séculos atrás e os problemas só se agravaram, os paradoxos que coloca ganharam dimensoes maiores. No texto relaciono que a sociedade que ele almeja e que remete aos gregos a esse passado também existia e existe aqui, no Brasil.
Mas como fazer para re-unir esse Brasil em meio aos avanços cada vez maiores da sociedade industrial? Não sei, mas levar o Zé Celso ao sertão é uma iniciativa, como disse, importantíssima.
Talvez a consciência do brasileiro seja feita do paradoxo desse passado perfeito com os desarranjos da sociedade industrial, que reformulamos nos zé celso, no carnaval, em Parintins e nas grandes festas populares.
Caso você queira ler o texto que eu me refiro, está em www.tufosesujeiras.blogspot.com

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