terça-feira, dezembro 12, 2006

A Casa
Raoni Seixas

Em uma rua escondida no bairro de Botafogo está essa maravilha pictórica, essa briga entre a arquitetura antiga e a árvore que, mesmo cortada, finca suas raízes por dentro da construção. Interessa observar a estética do ato que foi sendo construído quase que sem querer, a posterior derrubada dessa gigante árvore que deixou as raízes da cor das paredes em decomposição; ao ponto do observador poder perceber a imagem como apenas uma coisa.
Pensei em batizar como a casa da morte pelos óbvios motivos: casa abandonada, árvore cortada ao meio etc. Mas isso seria contraditório com o sentimento que tive no exato momento em que percebi esta casa: parei imediatamente o carro para olhar e registrar. Fui arrebatado pela imagem perdida no centro urbano, imagem que te remete a uma outra temporalidade ao olhar.
Não pode ser casa da morte.
É uma obra de arte. Ocasional. Mas é?


 
 
 
  Posted by Picasa

6 comentários:

  1. É parceiro, são duas horas da madrugada, e vou parar de futucar essa máquina. Fico realmente melindroso com essas coisas. Mas vai ser impossível parar de rever o que vivi, na brabeira do lixo, na quebrada escura, na batucada maledicente, na intimidade louca. Parceiro, são quantos filmes mesmo? Identifiquei alguns Dennys. Prefiro o da linha de frente, do fogo cruzado, o que está na boca do lobo e sabe disso. Será mesmo que vamos ter que falsear o Denny? Percebi alguns cortes seus, e isso não pode acontecer, o único corte válido (e assim mesmo tenho dúvidas disso) é o feito pela figura em questão. Transforme isso tudo em cd, logo que puder sim. Preciso rever as cenas repetidas vezes, até poder traçar a linha tragicômica que perfaz todos os eventos. Quem disse que não temos trilha musical? O Denny fornecerá todo o discurso musical que precisamos, como muito bem lembraste, ele fala por música. Aos outros caberá a pior parte, as lamúrias, as verdades históricas, a necessidade de auto-afirmação política. Percebo que podemos verdadeiramente realizar algo importante, mas queria mesmo era filmar o Grande Exército do Urso dos Macacos, descendo a cidade, em escaramuças, juntamente com os outros exércitos do povo oprimido. Mas como, se os deputados recebem quase 100.000 reais por mês, entre salário e subsídios?

    ResponderExcluir
  2. Raoni.
    Preciso mostrar o rosto de quem está falando, acabar com essa história de tarja preta. A criança vilipendiada, deve mostrar sua face precocemente transformada em fera, o bicho solto tem que transparecer sua carência infantil, o poeta deve comunicar a sua dor. Thelonious Monk no documentário "Straight no Chaser",se mostra tal qual é, despojado em sua catatonia, sem cortes. Não consigo imaginar o Thelonious vestindo a máscara da hipocrisia. Por incrível que pareça, presenciamos uma tentativa fugaz de auto-controle, não por um movimento consciente do ser, mas sim por uma adesão ao "sério", um formalismo tolo. Qual Denny está valendo? O partideiro desbocado dos gestos extravagantes, ou, o Denny controlado, como se estivesse no comercial da Brahma? Ele vai me responder essa questão. Todo o processo de desmonte da cultura; de industrialização dos meios de produção artística; a banalização das armas e do pó no cerne da comunidade oprimida;a reiteração da vedete no âmago do gosto popular; são dados úteis para a nossa pesquisa/filme; e não podemos negligenciá-los.

    ResponderExcluir
  3. Eu Sou de Nilópolis (Autor:Osório Lima)

    Vem um e diz
    Que é da Mangueira
    Outro diz é do Estácio de Sá
    Finalmente todos querem
    Exaltar o seu lugar
    Eu sou de Nilópolis
    Terra que tem gente bamba
    E tem macumba e tem samba
    Nilópolis terra da magia
    Quem é de Nilópolis )
    É a mesma coisa ) BIS
    que ser da Bahia )
    Em Nilópolis tem sol
    Jogo bom que é futebol
    Terra de gente de raça
    Temos parques e cinemas
    Negras , louras e morenas
    Desfilando em nossas praças
    E além de tudo isso
    Tem nego bom no feitiço
    E no samba é professor
    É de lá a escola de samba ) BIS

    http://www.obeijaflor.hpg.ig.com.br/sambascia.html

    ResponderExcluir
  4. Nina Ribeiro.

    Só agora, às 03:29h entendi o que aconteceu. Saí da Associação das Velhas Guardas, com a franca sensação de fracasso. Não consegui suplantar as dificuldades que o espaço físico impõem. Urge, a efetiva participação do estado naquele terreiro, que reúne ainda a memória do samba, mesmo que sofrendo na carne as mutilações do processo capitalista. Mas nada disso importa. Estando lá não consegui perceber devidamente a grandeza daquele lugar e daquela gente. Não me foi feita nenhuma pergunta acerca do que pretendia alí, nenhuma aproximação espúria se deu, nada me cobraram que eu não tivesse consumido. Se não consegui imagens para um filme, fui enlevado pela gentileza e sobriedade dos velhos sambistas.

    ResponderExcluir
  5. A apropriação dos signos populares pela indústria cultural apresenta fortes semelhanças com o tradicionalismo político. Em ambos os casos, trata-se de um processo de mistificação, no qual a tradição é reduzida a objeto, desconsiderando-se seu caráter subjetivo – sua condição de fala de um sujeito histórico. Se os tradicionalistas pensam a cultura popular, convertida em mercadoria, aparece aos olhos dos consumidores, inclusive de seus antigos produtores, sob a forma de coisas. No momento em que a música comunitária se adequa ao mercado capitalista do lazer e dos bens simbólicos, os homens, alienados de sua produção, passam a se relacionar não mais com um produto de sua atividade criadora, mas com algo que lhes é estranho, não se reconhecendo na música que lhes chega por meio da indústria. O canto popular já não aparece como forma de relação diretamente social entre seus produtores... Desde o início de sua comercialização, a música comunitária de matrizes negras foi submetida a uma nova concepção espacial e a uma nova temporalidade. A produção voltada para o mercado impôs um novo ritmo: o da produtividade e consumo acelerados. A mercadoria samba, como qualquer mercadoria, teria de circular cada vez mais rápido. No final dos anos 60, com o desenvolvimento da indústria da canção, o processo de mercadização do samba se intensifica consideravelmente. Este é o momento da descoberta do popular pela classe média, do aparecimento de novas tecnologias(TV e rádio transistorizado), da formação dos grandes conglomerados da indústria do entretenimento e, de modo geral, da consolidação do capitalismo no Brasil. Todos ganham com a aceleração do ritmo de produção do samba, menos, é claro, os sambistas, que perdem progressivamente o controle sobre a organização de sua própria cultura... A diversidade dos padrões culturais, dos objetos e dos hábitos de consumo constitui fator de perturbação intolerável para a necessidade de expansão constante do sistema capitalista... A padronização dos produtos permite que o sistema ofereça ao público uma gama de gravações semelhantes entre si – com custo de produção mais baixo devido à ausência de inovações – e de venda garantida pela falta de confrontações estéticas com produtos melhores. “ Tentávamos discutir isso e explicar que daquela maneira não haveria mais samba, porque as pessoas que fundaram a escola não conseguiam mais entrar no espaço delas. Esse povo que se convencionou chamar Velha Guarda enfrentou discriminação por parte das diretorias pelo fato de serem velhos! E a coisa era tão na marra, que, certa vez, o Joãozinho da Pecadora foi proibido pelo Natal da Portela de cantar porque ele era muito feio e poderia espantar os turistas.” Paulinho da Viola.

    Eduardo Granja Coutinho

    ResponderExcluir
  6. Sr. Eduardo Coutinho.

    Escrevo-lhe com um misto de felicidade e ceticismo. Seu livro “Velhas histórias, memórias futuras”, tem sido meu parceiro de discussão recorrente, chego mesmo a maltratá-lo, massacrá-lo de anotações, riscá-lo com setas e rabiscos e diagramas, mas isso garanto, só faço com os Livros, os demais, trato-os bem, para que outras pessoas possam lê-los e não devolvê-los. São muitas as correlações entre o meu trabalho e sua obra, Não exagero dizendo isso. No momento estou filmando nas ruas, sobretudo nas ruas, um documentário ou média metragem ou sei lá o quê, com sambistas cariocas, a maioria deles oriundos do Bloco Cacique de Ramos, da década de 80 (fim dos setentas). Já tenho quase 10 horas de gravação, na brabeira do lixo, na quebrada escura, na batucada maledicente, na intimidade louca, com personagens chave no processo de edificação do que hoje, chamam samba carioca, e, foram esquecidas ou afastadas ou ainda se afastaram traumaticamente do mercado fonográfico e do Show Bussines. Não tenho um prazo para a finalização do filme, ele se desenvolve de forma inadvertida, ensaística, ao sabor dos acontecimentos e padecimentos da vida dos documentados, por isso mesmo não é um filme. Preciso também dizer, divido a tarefa com um jovem amigo, ou um pouco mais jovem, e somente nós dois arcamos com os custos e os gozos da realização. Certos trechos do seu livro supracitado são como que respostas/perguntas às minhas necessidades. Careço fazer o que estou fazendo, só faço como alternativa a inação a qual me encontro. Se penso em colocar trechos do Velhas histórias é porque sei que eles estarão de qualquer forma, mesmo que contidos nas imagens, na narrativa, até mesmo nas escolhas estéticas. Mesmo antes de sua provável resposta, já imagino o panderista Don Camilo falando o texto, simplesmente falando. Não vou escrever mais, pelo menos por enquanto, creio que a introdução da idéia já foi feita, e o Velhas histórias já foi escrito.

    Alexandre Teixeira

    Resposta:

    Caro Alexandre,
    Recebo sua mensagem com grande alegria. Em primeiro lugar por encontrar alguém que, como eu, é admirador de Lima Barreto e de seu personagem Isaías Caminha. Fico feliz, ainda, de saber que você gostou de "Velhas histórias..." e que o está "massacrando" para reconstrui-lo sob a forma de filme. É bom saber que este livro está alimentando uma discussão sobre o samba carioca - uma "tradição da vida marginal" -, e que ele pode, o que seria a consagração definitiva, ser declamado pelo camarada Don Camilo. É a glória!
    Qualquer hora dessas a gente se encontra numa roda de samba e toma uma cachaça em honra dos sambista de ontem e de hoje.
    Um grande abraço,
    Eduardo

    ResponderExcluir