segunda-feira, julho 17, 2006

Se os tubarões fossem homens


Se os tubarões fossem homens, perguntou ao senhor K. a filha de sua senhoria, eles seriam mais amáveis com os peixinhos? Certamente, disse ele. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e tomariam toda espécie de medidas sanitárias. Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, lhe fariam imediatamente um curativo, para que não morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres tem melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam voltar toda inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista, e avisar imediatamente os tubarões, se um deles mostrasse tais tendências. Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em linguas diferentes, e por isso não podem se entender. Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros, inimigos, que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de argaço e receberia um título de herói. Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveria também arte entre eles. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardim que se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo para as gargantas dos tubarões, e a música seria tão bela, que seus acordes todos os peixinhos, como orquestra na frente, sonhando, embalados, nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões. Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões. Além disso se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive comer os maiores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles teriam com maior freqüência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas, etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens.”

Bertold Brecht
(contribuição de Alexandre Barbosa Teixeira - o Xandiiinho)

6 comentários:

  1. Uma alta cultura somente pode edificar-se sobre um vasto terreno, sobre uma mediocridade bem saudável e fortemente consolidada. A seu serviço, e servida por ela, a ciência trabalha – e até a arte. A ciência não pode desejar melhor: é própria de uma espécie mediana de homens – está deslocada entre as exceções – nada tem em seus instintos de aristocrático, e ainda menos de anarquista. – O poder da mediania é ainda mantido pelo comércio, antes de tudo pelo comércio do dinheiro: o instinto dos grandes banqueiros dirige-se contra tudo o que é extremo – eis por que os judeus são, no momento, a potência mais conservadora da nossa Europa tão ameaçada e tão incerta. Não lhes fazem falta revoluções, nem socialismo, nem militarismo. Se querem ter o poder, se têm necessidade de poder, também sobre o partido revolucionário, é simplesmente uma conseqüência do que acabo de indicar, e não uma contradição. Têm necessidade de despertar em certas ocasiões o temor nas correntes extremas – mostrando tudo o que têm em suas mãos. Não obstante, seu instinto é invariavelmente conservador – e “medíocre”...
    Em toda a parte onde há poder sabem ser potentes; mas a exploração de seu poder segue sempre na mesma direção. O título honroso para o que é medíocre, é, como se sabe, a palavra “liberal”...

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  2. Mais de 6 mil pessoas assassinadas no Iraque desde janeiro de 2006.

    AH
    Enrico Rava Quartet

    1 lulu
    2 Outsider
    3 Small Talk
    4 Rose Sealvy
    5 Ah
    6 Trombonauta
    7 At the movies

    Enrico Rava, trumpet
    Franco D'Andrea, piano
    Giovanni Tommaso, bass
    Bruce Ditmas, drums

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  3. Fidel Castro foi internado para cirurgia com sangramento intestinal.

    The Pilgrim and the Stars
    Enrico Rava
    1975

    1 The Pilgrim and the Stars
    2 Parks
    3 Bella
    4 Pesce Maufrago
    5 Surprise Hotel
    6 By the Sea
    7 Blancasnow

    Enrico Rava, trumpet
    Palle Danielsson, bass
    John Abercrombie, guitar
    Jon Christensen, drums

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  4. Death Ambient/Painted Desert
    Ikue Mori 2 cds

    Death Ambient

    Ikue Mori
    Kato Hodeki
    Fred Frith

    1 Alchemy

    2 Heart set
    3 Rain
    4 Broken Blue
    5 Loquat Tree
    6 Coyote Got Way
    7 Heart Set
    8 Loading and Running
    9 Flash
    10 Ways Out

    Painted Desert

    Ikue Mori
    Marc Ribot
    Robert Quine

    1 Mojave
    2 Desperado
    3 Cheyenne
    4 El Dorado
    5 Gundown
    6 Painted Desert

    Live-Evil
    Miles Davis
    1970
    disc 1

    1 Sivad
    2 Little Church
    3 Gemini/Double Image
    4 What I Say
    5 Nem um Talvez

    Momente for soprano solo, 4 choir groups and 13 instrumentalists with a duration of about 110 min.
    Karlheinz Stockhausen
    1965

    1 Part 1
    2 Part 2
    3 Part 3
    4 Part 4
    5 Part 5
    6 Part 6
    7 Part 7
    8 Part 8
    9 Part 9
    10 Part 10
    11 Part 11
    12 Part 12
    13 Part 13

    Sirius, elektronic music and trumpet, soprano, bass clarinet, bass
    Karlheinz Stockhausen
    1975-77

    1 Presentation
    The wheel of the year
    The Annunciation

    Free Jazz
    Ornette Coleman
    1960

    1 Folk Tale
    2 Poise
    3 Beauty is a rare thing
    4 Fisrt Take
    5 Free Jazz

    left channel, Ornette Coleman
    Don Cherry
    Scott Lafaro
    Billy higgins

    right channel, Eric Dolphy
    Charlie Haden
    Freddie Hubbard
    Ed Blackwell

    fly, Fly, Fly, Fly, Fly
    Cecil Taylor
    1980

    1 T (Beautiful young'n): Astar
    2 Ensaslayi
    3 I (Sister young'n)
    4 Corn in Sun + T (moon)
    5 The Stele Stolen Broken is Reclaimed
    6 N + R (love is friends)
    7 Rocks Sub Amba

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  5. Guerra do tráfico no Morro do Vidigal já fez 15 mortos em 5 dias.

    Angelus
    Milton Nascimento
    1993

    1 Seis horas da tarde
    2 Estrelada
    3 De um modo geral...
    4 Angelus
    5 Coisas de Minas
    6 Hello Goodbye
    7 Sofro Calado
    8 Clube da Esquina No 2
    9 Meu Veneno
    10 Only a dream in Rio
    11 Qualquer coisa a haver com o paraíso
    12 Vera Cruz
    13 Novena
    14 Amor Amigo
    15 Sofro Calado

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  6. Havia um faquir que, pela sua competência, alcançara enorme popularidade na região onde vivia. Multidões se acotovelavam para assistir seus recordes sucessivos de jejum. com o tempo, o faquirismo foi caindo de moda sem que o faquir se desse conta do fato. continuou jejuando até morrer de fome. a história termina com o zelador do circo onde ele se apresentava varrendo seus ossos e colocando no seu lugar um vigoroso leão, que passou a atrair grandes multidões.

    K.

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