terça-feira, julho 11, 2006

Domingo, 23:00, 09/07/2006

Voltamos do Camorim com a mais agradável sensação de bem viver. O fim de semana deixou seu calor nas nossas peles e no nosso humor, com muitas doses de saquê ao anoitecer. O caminho muito esburacado, ermo, iluminado apenas pela lua fazendo sombra nos postes sem luz. Um emaranhado de concreto sem sinalização me conduz a caminhos errados, obscuros, labirintos no Rio Centro. Carros me ultrapassam em alta velocidade.
Homens cariocas de terno em suas salas de agradável brisa artificial flutuam no meio termo entre a primitividade e progresso, com muitas doses de felação.
Barra. Na imensidão solitária de imensos é-dificius um menino equilibra bolas e têm minha compaixão. Um menino fingindo ter o braço amputado equilibra bolas na imensidão solitária iluminado pelo muro do Terra Encantada. Um menino se equilibra fingindo não ter um braço e toca a minha mão. Minha mão equilibra um menino que joga bolas na imensidão fria e seca das prisões da Barra. Juntos, sabemos que não há Terra Encantada. Juntos, sabemos que eu não quero dar esmola para ele. Na imensidão solitária de imensos edificeis um menino equilibra bolas e têm minha compaixão. Sigo blindado? Eu não.
Carros velozes me ultrapassam e já não sou mais tão imprudente: trafego pela pista da esquerda.
Lagoa. Fernanda fuma seu cigarro janela meio aberta/fechada; compartilhamos mudos à mesma sensação de esquizofrenia pós-calmos momentos no pequeno recanto paradisíaco do Camorim.
Dois meninos flertam nosso carro, ponto de ônibus ao lado. Fernanda, sincera, pensa em não fechar o vidro: preconceito, preocupação, ingenuidade? Ela divide comigo sua sincera questão enquanto um carro de policia dá marcha ré na rua perpendicular:
- Fecha a janela que tem um policial vindo ali, vai dar merda.
Fernanda fita os olhos dos meninos que fitam seus olhos que vão escurecendo conforme vai subindo o vidro fume. Um policial caminha em direção ao ponto de ônibus, um garoto salta em direção ao carro da frente, eu buzino, aumento os faróis do carro e dou ré, outros carros buzinam e o policial corre de arma na mão, pelo meu ponto de vista o tiro seria na nossa direção mas o outro menino que dá cobertura não está armado, o que estava no carro da frente agora começa a correr ao ver o policial, que gritou, eles correm para dentro da praça, o policial corre enquanto o outro fica dentro do carro que ainda está na rua perpendicular.
Juntos, sabemos que não há Terra Encantada. Juntos, sabemos que agora eles já não pedem esmolas.
O Sinal abre.
O fluxo de carros segue, o carro da frente segue normalmente (não dá pra reparar se ele teve algum dano). A esquizofrenia que dividia a dois, compartilho com os outros motoristas que, embora nos os vejam, estão assustados: dirigem mais lentos, outros ainda buzinam, outros seguem normalmente quando não da pra seguir normalmente depois disso.
E para àquele que não desejou a morte dos dois garotos, que quis dar carona aos três vultos que viu andando na pista de alta velocidade entre São Conrado/Lagoa e que está pensando nos ocorridos até agora, que não vai estar aqui nesta cidade durante o Pan (ou se tiver ficarei em casa ou escondido em outro lugar), restou a escrita como forma de registro, de algo, ou o que, algo assim que se perdeu ou que se achou, que esta acontecendo e não da mais pra não ver.
Em quem você vai votar nessas eleições?
Juntos, sabemos que não há Terra Encantada.

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