quinta-feira, dezembro 01, 2005

O celular

Embora atropelado pelo ônibus, ainda falou por alguns dias antes de apagar de vez. Nem a luz do visor quebrado acendia.
- Acabei de pagar a última prestação...
Depois de tentar - e conseguir - adiar, tive de levá-lo ao conserto. Centro ou Barra da Tijuca? Não acostumado com a minha nova condição de morador (provisório) do Jardim Botânico, cinco minutos antes de sair de casa estava decidido a ir para o Centro da Cidade, Avenida Buenos Aires. Me apronto e ouço a tradicional pergunta do ser que dorme a minha frente, como um urso que acorda da hibernação:
- Tá indo pra onde? - murmura o suficente para ser ouvido.
- Consertar meu celular no Centro. - respondo rapidamente tentando dar um fim na conversa matinal. E pego a folha impressa, também murmurando:
- Na verdade tenho duas opções: Centro ou Barra.
- Vai pra Barra, muleque, muito mais perto. Pô, aproveita e tomo um banho de mar.
- Aham.
- Pô, cagou pro qu'eu falei...
Ele estava certo. Não iria tomar banho de mar nenhum.
Vinte minutos depois desço no primeiro ponto da Barra para alcançar a Olegário Maciel. Se tivesse tomado o lado contrário, provavelmente ainda estaria engarrafado em Botafogo. Não estou.
Chego à loja e a simpática e sorridente vendedora loira me informa os preços:
- Só a parte interna do visor é cem reais. A externa é setenta. A frente do celular é setenta. Costas também. Preciso continuar?
Não. Me mostrou as opções de sansung - explicando que não vendiam, apenas consertavam - reprovando um dos folhetos:
- Não, esse eu não gosto.
- Porque?
- Porque não gosto. - ponto.
Dez minutos depois estou com 7 folhetos de propaganda de celular, avaliando-os; sol ardendo no rosto, reprovando minha idéia de repensar a sugestão do amigo e dar uma passadinha na praia, ali do lado. Ando um bocado até o ponto, para pegar o ônibus que passa em frente à loja. Não precisava ter andado nada.
Desco no Jardim Botânico em frente a uma loja Ponto Frio. Olho os celulares e sem eu perceber já estou parcelando um celular parecedíssimo com o atropelado, e saio da loja tendo falado com cinco pessoas sobre meu número provisório!
Em pouco mais de uma hora que saí de casa, volto com um novo celular, feliz por ter resolvido esse problema com meu próprio esforço.
Portanto, caro amigo, estou de número provisório. Para falar comigo, é só ligar para o número antigo que eu digo o número novo. E, por favor, não deixe que eu perca esse novo aparelho. Afinal, ainda há longos dez meses para pagá-lo.

Um comentário:

  1. :) raoni e seu jeito objetivo de encarar as coisas... ou não? Adoro suas descrições, seu "pupurri" das situações de vida q vc passa. :D Me deixa bem humorada... gostaria de ouvir sua mente como num filme.
    Ah.. uma pena teres perdido aquele celular, afinal, o meu foi comprado em "homenagem" a vc numa onda de acontecimentos q me levaram a levar AQUELE modelo. Me é tão nítido, cristalino cada tudo no riosul, na unirio... aquela erva solta... chega disso. Ou só nas ocasiões certas. E Herzog???? Furão.. :P meu celular é o mesmo. Que tal um mgem? Bjos!

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