Na véspera do fim de semana, a cidade fica um inferno. Apesar de ter saído de casa com uma hora de antecedência, o trânsito me fez chegar com dez minutos de atraso ao ponto de encontro. O almoço ainda remexia na minha barriga e às vezes eu tinha a impressão de que a qualquer momento a comida ia voltar por aonde veio.
Entrei no carro e partimos rumo a uma das muitas ruas paralelas à Avenida Brasil. Depois de algum tempo entramos em uma delas. No Rio é assim: a Avenida imensa e o trânsito fervendo. Um mundo onde parecem existir somente carros, ônibus, suor e engarrafamento. Mas é só virar uma rua e tudo muda: crianças, homens e algumas boas mulheres de shortinho caminham de um lado para o outro. Se eu fosse um jornalista sem noção, talvez eu descrevesse essa virada de esquina como a entrada para um portal onde se revela um novo mundo, repleto de coisas desconhecidas a se desbravar. Mas isso seria uma irresponsabilidade. Não tem nada de mundo novo nisso. Aqui é somente um dos muitos lugares que adormece todos os dias sobre a panela de pressão que é a cidade do Rio de Janeiro.
Subo a rua a fim de encontrar o nosso possível entrevistado e conhecer sua casa. Passo por uma praça onde dezenas de crianças brincam em um parque de diversões improvisado. Muitas pessoas na rua: algumas voltam do trabalho, outros se preparam para ir ao baile funk da noite. Ninguém me olha diferente.
Na volta da casa do entrevistado fazemos um caminho diferente. Andamos e paramos em um beco semi-escuro, onde a luz de um poste cortava parte da rua, deixando a outra parte no escuro. E era ali que estavam dezenas de pessoas aglomeradas, com latas de refrigerante e isqueiro na mão. O figurino na maioria dos casos era de cor escura. A aparência é de pobreza e velhice. E o cheiro de coisa podre.
Em São Paulo, os traficantes ganhavam dinheiro ao custo da morte de muitas pessoas em curto espaço de tempo. Os do Rio não importaram a idéia e proibiram a venda na cidade. Mas agora a droga é vendida por uma facção. Em todas as outras a venda continua proibida.
Na volta, ainda passamos por outro local, agora de carro. Era ao lado de uma rua movimentada, com muitas mães voltando para a casa com seus filhos, e dezenas de jovens consumindo a droga em plena rua. O olhar frenético, a baixa idade dos usuários e as muitas mães andando na rua são uma imagem que fica incomodando na cabeça.
O carro e nós parados diante de uma situação que remete ao caos. Um jovem, que acredito que estava sobe o feito da droga, aproxima-se do nosso carro, ele olha com profundidade e tristeza nos nossos olhos. Percebo que na sua camisa tem algo escrito que me chama a atenção: “Jesus te ama”.
A primeira é engatada no carro a partimos de volta para as nossas casas. Olho pelo vidro traseiro do carro e o jovem desaparece no longo beco escuro...
(escrito com a colaboração de Luciano Vidigal).
escrevam mais!!!!!! beijos
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