segunda-feira, setembro 21, 2009

Do tamanho de um botão



Quando eu era pequeno queria ter os braços do Arnold Schwarzenegger. Queria ser o Jaspion para salvar o mundo dos monstros gigantes. Adorava os guardas: sempre que via um na rua gritava: “Oi, amigo policial!” Uma vez minha mãe fez um bloquinho e eu saí multando todos os carros do condomínio de sete blocos em que eu morava, no Rocha. Também fez um chequinho uma vez, e o processo foi o mesmo: saí distribuindo cheques pelas mercearias e estabelecimentos, mesmo sem levar nada. Depois quis ser jogador de futebol, passava horas do dia pensando nos rios de dinheiro e nas mulheres que o menino orelhudo iria ter a seus pés. Eu tinha o meu próprio quarto, minhas coisas, e queria um carrinho de fórmula um. Uma vez vi na TV um “papa-ficha” e pedi: "mãe, eu quero um!" E não é que de noite ela me trouxe um! Foi a única vez que me fez uma surpresa dessa... Naquela época, brigar com ela era bem mais simples: me trancava no meu quarto, e de noite, deixava um desenho embaixo da porta dela com duas mãos “cortando de mau”. Quando fazíamos as pazes, desenhava mãos “cortando de bem” . Tenho esses desenhos até hoje. Passava horas desenhando o mar, montanhas e o Batman e Robin. Escrevia cartas de amor com minha péssima caligrafia infantil. Queria ter um irmão. Eu não lembro, mas minha mãe relata que eu dizia estar vendo meu irmão e que até brincava “com ele”, eu tinha dois anos. Minha mãe perdeu um filho antes de mim, e eu nem sabia...Também pensava em me matar. Olhava a janela da sétimo andar e pensava: “vou pular!” Tinha muitos sonhos em que eu acordava quando estava prestes a me espatifar no chão. Pensava em cortar os pulsos também, e já cheguei a pegar uma faca e posiciona-la para tal. Quando eu era pequeno, perguntava pra minha mãe o que eu estava fazendo dentro daquele corpo, não entendia como eu tinha ido parar ali.

Depois a gente cresce.

março de 2005, postado pela primeira vez no tufos e pela segunda no tlfsc.blogspot.com em 10/abril/2006

3 comentários:

  1. já conhecia essa, e sempre adorei...a infancia realmente é uma coisa incrivel e é sempre bom lembrar certas coisas da gente que acabamos deixando pelo caminho. Mas prá resumir, tive hj a mesma sensação de quando li pela primeira vez: vc era um garoto fofo!

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  2. Você dizia: "amigo GUARDA!!!!!!!!!!!!!" Não era "policial".

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