quarta-feira, maio 02, 2007

"- Imagine que você tenha vivido num mundo
em que não existissem espelhos.
Você teria sonhado com seu rosto,
o teria imaginado como uma espécie de reflexo exterior daquilo que se encontra em você.

E depois, suponha que com quarenta anos
tenham lhe estendido um espelho.
Imagine seu espanto.
Teria visto um rosto totalmente estranho.
E compreenderia nitidamente aquilo que recusa a admitir:
seu rosto não é você. "

(Milan Kundera, A Imortalidade).

Do trabalho "O Lago de Narciso", da artista plástica Neide Jallageas.
http://www.jallageas.art.br/IMAGENS/O_LAGO_DE_NARCISO/seu_rosto_nao_e_voce_1.htm

Um comentário:

  1. Nada se iguala à solidão de um pianista de um grande hotel. Ao redor dele só há rumores de coquetel e mundanidades, ele está mais só com sua melodia do que numa ilha. No entento, num dado momento, ele pára e as pessoas o aplaudem. ficamos duplamente espantados: essa música tinha então um fim, e as pessoas estavam escutando? ele tocava alguma coisa, e não tocava em vão? ele mesmo parece estupefato. Mas ele sabe, bem no fundo de sua alma, que esses aplausos ressoam apenas por causa do silêncio de sua música, da qual essas cabeças loucas tomam consciência como do açucar que derrete em seus copos. Por isso, como a cantora careca, ele se apressa em recomeçar a melodia.

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