terça-feira, janeiro 03, 2006

desCreditar
Raonusklus Molusklus

Quando credita
Não necessita
Embora, implica
Responsabilizar.

O Sol na aurora
Nunca a parar
Você, agora
Querer mudar?

Já disse o bêbado
do Humaitá
Completo o ciclo
Do Sol trabaiá
Nariz Vermeio de tanto cantá
Garganta Vermeia de tanto cheirá
Copo vazio a compretá
Sentado nu chão a gritá:

- Quando credita
Não necessita
Embora, implica
Responsabilizar.
Mas no ato falho,
Falido cansaço
Que resta a fazer
Se não descreditar?

2 comentários:

  1. Frei Betto – Eram mais ou menos quantos companheiros na travessia até Sierra Maestra?

    Fidel Castro – Seis ou sete. Aproximamo-nos de uma casa, falamos com um cidadão e foi ele quem arranjou o encontro daquele grupo com o arcebispo. Ao amanhecer, aqueles companheiros seriam apanhados pelo arcebispo. Eu e os dois que estavam comigo nos separamos deles, nos afastamos uns dois quilômetros daquele lugar, no propósito de, à noite, pegar a estrada que conduzia à baía de Santiago de Cuba. Porém, o exército soube, talvez tenha interceptado a ligação telefônica entre aquela família e o arcebispo, e bem cedo, antes de amanhecer, patrulhas ocuparam toda aquela região,inclusive as proximidades da estrada. Estávamos a dois quilômetros e cometemos um erro que, até então, não havíamos cometido em todos aqueles dias. Cansados, tínhamos que dormir nas piores condições, nas ladeiras da montanha, sem saco de dormir ou coisa parecida e, justamente naquela noite, encontramos uma pequena cabana, de quatro metros de comprimento por três de largura, o que aqui chamam de vara em tierra, lugar onde se guarda material de trabalho. Para proteger-nos da neblina, da umidade e do frio, decidimos ficar ali até amanhecer. De manhã, antes de despertarmos, uma patrulha de soldados entra na cabana e nos acorda com os fuzis sobre o peito. Ser despertado pelos fuzis do inimigo foi conseqüência de um erro que jamais deveríamos ter cometido.

    Frei Betto – Nenhum de vocês montou guarda?

    Fidel Castro – Não, ninguém montou guarda, os três dormiam, entende? Estávamos um pouco confiantes, pois havia uma semana que, apesar de rastrearem toda a região, continuávamos furando o cerco. Subestimamos o inimigo, cometemos um erro e caímos em suas mãos. Certamente interceptaram o telefonema, não posso admitir que as pessoas com as quais fizemos contato nos tivessem delatado. É certo que cometeram indiscrições, como a de falar ao telefone, o que alertou o exercito que, imediatamente, enviou as patrulhas que nos capturaram. Do jeito que aqueles indivíduos andavam sedentos de sangue, teriam nos assassinado de cara. Porém, ocorreu uma incrível casualidade: havia um tenente negro chamado Sarría, que não era assassino e tinha certa autoridade. Os soldados estavam excitados, nos amarraram, apontaram os fuzis contra nós e queriam matar-nos. Pediram a nossa identidade e demos outro nome. Vi logo que não nos reconheceram.

    Frei Betto – o senhor já era muito conhecido em Cuba?

    Fidel Castro – Relativamente, mas por alguma razão aqueles soldados não nos reconheceram. Não obstante, queriam matar-nos e, se tivéssemos nos identificado, teriam disparado. Começamos a discutir com eles. Diziam que éramos assassinos, que queríamos matar soldados e que eles eram os continuadores do Exercito Libertador. Perco um pouco a calma e retruco que eles são os continuadores do exercito espanhol e que somos nós os verdadeiros continuadores do exercito libertador. Nós nos dávamos por mortos; eu não imaginava a mais remota possibilidade de sobreviver. Durante a discussão com eles, o tenente interveio e disse: “Não disparem, não disparem”. Impôs-se aos soldados, enquanto repetia em voz baixa; “Não disparem, as idéias não se matam”. Três vezes aquele homem repetiu: “As idéias não se matam”.

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