Tufos & Sujeiras - 6 anos

O Mundo das barganhas ou

“Me mostra o seu que eu te mostro o meu”

“Vivemos no mundo das barganhas!” – Vicente havia chegado a essa conclusão. A tristeza das pessoas que cruzava na rua desaparecia no novo e enorme anúncio de cabelos de Giselle Bündchen, não tão reluzente que o marketing no out-door triplo do lançamento da nova novela das oito, ou o anúncio colorido do bus-door da Coca-Cola.

Havia acabado de voltar do Fórum da Justiça no centro do Rio de Janeiro. Embora todos os homens estivessem engravatados ao calor escaldante de 40°, as mulheres se dividiam em dois grupos: algumas com vestimentas similares as dos homens, escuras e fechadas; e outras com pequenos vestidos ou decotes e silhuetas a mostra. A vantagem que um grupo levava sobre o outro em produtividade variava com o momento do dia e com a variação constante do contingente.

Vicente não estava com roupas escuras e nem silhuetas a mostra. E também não era advogado, e nem estava com um. Fadado a esperar algumas horas, pudera observar o método de organização do local: “Vivemos num mundo de barganhas. Todos precisam levar vantagens uns sobre os outros. Em todos os momentos da vida somos cobrados a ser melhor do que seu vizinho, a “ser simpático”, a orar todos os dias e pedir perdão pelos pecados. Fadados desde o nascimento à morte. Não há mais oportunidade para conhecer a si, não há mais oportunidade de conhecer o outro. Tenho que me esconder por trás do meu sorriso ou da minha aparência física, ou da roupa que eu uso. Máquina. Som...”

- Oi, tudo bem? – é interrompido por uma loira sorridente, ar sério e curvas sensuais.

Dois minutos depois pagava cem reais para adiantar o seu processo...