sábado, março 05, 2005

Quando eu era pequeno queria ter os braços do Arnold Schwarzenegger. Queria ser o Jaspion para salvar o mundo dos monstros gigantes. Adorava os guardas: sempre que via um na rua gritava: “Oi, amigo policial!” Uma vez minha mãe fez um bloquinho e eu saí multando todos os carros do condomínio de sete blocos em que eu morava, no Rocha. Também fez um chequinho uma vez, e o processo foi o mesmo: saí distribuindo cheques pelas mercearias e estabelecimentos, mesmo sem levar nada. Depois quis ser jogador de futebol, passava horas do dia pensando nos rios de dinheiro e nas mulheres que o menino orelhudo iria ter a seus pés. Eu tinha o meu próprio quarto, minhas coisas, e queria um carrinho de fórmula um. Uma vez vi na TV um “papa-ficha” e pedi: mãe, eu quero um! E não é que de noite ela me trouxe um! Foi a única vez que me fez uma surpresa dessa... Naquela época, brigar com a ela era bem mais simples: me trancava no meu quarto, e de noite, deixava um desenho embaixo da porta dela com duas mãos “cortando de mau”. Quando fazíamos as pazes, desenhava mãos “cortando de bem” . Tenho esses desenhos até hoje. Passava horas desenhando o mar, montanhas e o Batman e Robin. Escrevia cartas de amor com minha péssima caligrafia infantil. Queria ter um irmão. Eu não lembro, mas minha mãe relata que eu dizia estar vendo meu irmão e que até brincava “com ele”, eu tinha dois anos. Minha mãe perdeu um filho antes de mim, e eu nem sabia...Também pensava em me matar. Olhava a janela da sétimo andar e pensava: “vou pular!” Tinha muitos sonhos em que eu acordava quando estava prestes a me espatifar no chão. Pensava em cortar os pulsos também, e já cheguei a pegar uma faca e posiciona-la para tal. Quando eu era pequeno, perguntava pra minha mãe o que eu estava fazendo dentro daquele corpo, não entendia como eu tinha ido parar ali.

Depois a gente cresce.

13 comentários:

  1. Vc é tão genial, amigo... Eu tenho muito orgulho de vc! Obrigada por ter entrado na minha vida e não esqueça, vc tem uma irmã ;) Te amo.

    Carlinha

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  2. A infância deixa marcas profundas na gente...

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  3. educação. algo primordial. a gente nasce, ja sob as influências astrológicas (e isso ninguém irá negar pois mesmo que não se identifique com a leitura astrológica, os astros estão sim em determinada posição!), herança genética pra ciência, karma no budismo. isso tudo incluindo o lugar que nasceu e a conjuntura familiar que te esperava. a essência se manifesta quando crianças, mas posteriormente será maquiada na personalidade do jogo social.
    freud dá uma grande importância a vivência infantil, o que ajuda a entender mecanismos já invisíveis à pessoa, mas que talvez gere uma certa acomodação no sentido de acostumar-se ao que se foi inicialmente e ponto. mas isso é meio cristão/semita. as coisas podem ser mutáveis! deve-se desviciar as "ações-reações". QUANDO SE RECONHECE O PROBLEMA 50% ESTÁ RESOLVIDO, como diriam. ou não. pois se houver admição e acomodação volta=se ao marco zero.
    nirao, adaptação nem sempre leva a solução. volte as raizes ..

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  4. quando eu era pequeno pensei ate em ser presidente, depois mais pouco ouvi funk na favela, curti um rock no garage, pixei a rua.......

    puta que pariu.. será que eu cresci ?

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  5. se a convivência te desperta saudosismo, retente o que foi sendo marcante no seu crescimento..volte a raiz do "problema"! (isso é o que tenho buscado para o meu crescimento...)

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  6. Eu também tinha esse bloquinho! Mas era pros meus "trabalhos investigativos"...eu ficava no play vigiando...anotando as coisas...achando pessoas suspeitas...hahahaha...Ah! Adorei o detalhe da palavra "cresceu" bem pequenininha! Foi de propósito, né? Porque achei genial!

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  7. "A perversão é uma experiência que permite aprofundar o que se pode chamar, no sentido pleno, a paixão humana, para empregar o termo spinozano, quer dizer, aquilo em que o homem está aberto a essa divisão com ele mesmo que estrutura o imaginário(...) Ela é aprofundadora, com efeito, pelo fato de que nessa ânsia do desejo humano aparecem todas as nuanças, escalonando-se da vergonha ao prestígio, da bufonaria ao heroísmo, pelo que o desejo humano está inteiro exposto, no sentido mais profundo do termo, ao desejo do outro”.

    Estas idéias são de Lacan. Sabe que ele jamais escreveu qualquer livro? Não cria ser possível "publicar" as idéias. Era, de fato, radical: não escrevia livros porque não cria no estatuto absoluto das palavras...

    Quando eu era guriazinha eu tinha receio de que minha fosse parar numa prateleira de super-mercado. Garrafas de Coca-Cola em série. Rijas, pretas e gordinhas. Bom... Minha mãe só não era preta. Eu me via pulando, pequena e aflita, tentando chamar sua atenção. Eu devia ter como subtexto: "Mãe, você não é refil, não!!"

    Há uma crise nos séculos como nos homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo e caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de oiro. O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem: vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias - isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia. ÁLVARES DE AZEVEDO, em A Lira dos Vinte Anos.

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  8. Meu querido
    Nao sei o que falar.
    Tambem queria meu irmao, aqule que ta longe.
    Um dia a gente cresce, algum dia.
    Beijos enormes e muita felicidade pra vc.

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  9. Eu tinha um cheque de mentirinha!!! eu mesma fabricava! Fazia até os furinhos pra poder destacar ( pq o grande barato estava em destacar!). Quando brigava com minha mãe, dava um cheque pra ela com vários zeros no final do número... hj em dia cheque é até motivo de briga! É sempre bom ler coisas sobre a infância. Mesmo que sejam lembranças não tão boas.E quem disse que a gente cresce? Te adoro meu querido! beijinhos

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  10. Crescer faz parte do processo: há dores e alegrias, mas tudo é aprendizagem. A grande dificuldade é ver o passado com os olhos do presente, construindo novos futuros. Todos estamos neste processo e a idade é mera cronologia. No entanto, a criança q fomos permanece em nós: "o menino é o pai do homem". Os sonhos e a alegria da infância podem ser mantidos na velhice q nos aguarda, para q a amargura não transforme em acidez os sofrimentos inevitáveis. Viver dói, mas a vida foi dada gratuitamente: depende de vc o q irá fazer com ela. Fiz o q pude, o q não me isenta de meus erros, tb estou em meu processo. "Viver é eterna aprendizagem" e, às vezes, somos reprovados, ficamos em recuperação ou passamos de ano. Sem tantas racionalizações, vamos criando as asas para voar, mas há q rastejar tb, qd necessário. Humildade é fundamental. Roze, sua mãe.

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  11. Nossa... Esse texto me tocou profundamente... Me fez relembrar coisas q nem vinham mais à minha memória. Crescer é difícil mesmo, ainda mais longe da família... Quando vc falou das brigas c/ sua mãe, eu pensei: Nem vejo a minha, queria tanto brigar com ela agora e trocar um "selinho" para selar a paz novamente... Bobagem... Te adimiro muito, sabia?! Vc é genial! Bjão da amiga q te ama, viu?! Muito!!
    Thaine

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  12. hahahahaha... vc é mt mt foda, essa sua infância ta parecendo de alguem que eu conheço.. como a sua amiga ja falou "vc tem um irmão" e esse irmão sou eu e mts que vc tem por ai... T AMU LESSYYYY!!!!!!..BLACK SUN

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