segunda-feira, fevereiro 21, 2005

LIMITE
niRao Carroll, sobre texto escrito às 01:31 em 07/07/2002

Um ano de namoro e nada. Era sua situação-limite. Haviam trocado muitas confidências e carinhos, mas na hora tão esperada por ele, nada. Era categórica: não aceitava contestação!

Há exatos 367 dias antes, após muitas conversas via msn e trocas de olhares na sala de aula, Alice aceitou o convite para ir ao cinema. Senti o seu coração dentro da caixa torácica ao colocar seu melhor perfume. Quando a viu de longe, lembro das gotas de suor a passar pela pele e umedecer a camisa. Ela o cumprimentou com um beijo estalinho tentando disfarçar o frio na barriga, ele pagou a meia-entrada dos dois. Era a primeira vez que tinham um encontro. Três dias depois estavam namorando.

Ao completar um ano de compromisso, preparou a casa como em “uma linda mulher”. Até pediu ao porteiro que comprasse um vinho no supermercado. Foi uma tarde inesquecível. Mas, ao anoitecer, quando fez menção de se despir, ela parou a brincadeira e foi embora.

À noite, na cama, recebe o telefonema: Alice morrera atropelada perto de casa. Coração disparando, suor e lágrimas escorrendo pelo rosto, tudo cessou ao ver o corpo da amada coberto, na sala mal iluminada do IML. Parecia que a menina estava adormecida a espera do beijo do príncipe encantado que levantou o lençol tentando resgatar o último suspiro de vida nos olhos verdes, arrumou o cabelo loiro manchado de sangue e penetrou Alice pela primeira e última vez.

5 comentários:

  1. Poxa...eu lendo aqui na maior tranquilidade, achando que se tratava de uma historinha de amor fofinha...e tu me dá esse susto! Um se revela um necrófilo e a outra morre virgem...ainda assim, gostei! Bjs.

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  2. Nossa! Me assustei com o fim dessa história! Que trágico fim! Triste demais pra mim nesses meus tristes dias!

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  3. Literariamente, o final imprevisível é perfeito. Existencialmente, nunca sabemos o instante seguinte: melhor realizar em vida do q lamentar após a morte.

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