sexta-feira, janeiro 14, 2005

06/01
TUDO TEM UM INICIO e/ou

DE QUEM EU LEMBREI NESTE NATAL...
Raoni Clesquers

“Roald Amundsen passou pelo maior teste de sua vida em setembro de 1909. Três anos antes, em outubro de 1906, o magro e silencioso norueguês passava sob a Golden Gate, em San Francisco, a bordo do minúsculo Gjoa, completando pela primeira vez na a “instransponível passagem de noroeste”: do mar de Baffin ao estreito de Bering. Mas o Gjoa era pequeno demais para seu projeto seguinte: derivar pelo Ártico para alcançar o pólo norte geográfico. E só havia um navio no mundo perfeito para isso: o Fram.
Naquele mês de setembro Roald Amundsen dirigiu-se à torre de Polhogda (às alturas polares), a imponente casa do mais celebre explorador polar de todos os tempos, Fridtjof Nansen, a fim de fazer um pedido difícil: o empréstimo do Fram – o mais incrível barco polar ate hoje construído, no qual Nansen fez sua histórica deriva de três anos no Ártico (...)
Amundsen ouviu a resposta que mudaria a vida dos dois homens: “You shall have Fram”.
Dois acontecimentos no mesmo mês de setembro de 1909 mudariam a vida de Amundsen e a história das explorações polares: os jornais de todo o mundo anunciavam o retorno de Frederic Cook, após alcançar o pólo norte em 21 de abril de 1908. Menos de uma semana depois, O New York Times estampava a manchete: “Robert Peary alcançou o pólo norte em 06 de abril de 1909”, iniciando uma polêmica que acabaria com a prisão de Cook por falta de provas de navegação de que alcançara o 90° Norte. O jovem norueguês não alterou seus planos e continuou, publica e oficialmente, preparando-se para ir ao pólo norte. Mas, em total sigilo, começou a planejar uma radical alteração em seu plano.
Uma vez mais em setembro, dia 13, o Times, de Londres, anunciava o projeto de Robert F. Scott de tentar, no ano seguinte, o pólo sul. Poucos meses antes da partida de ambos, ninguém imaginaria que uma corrida entre dois homens e duas nações havia começado na cabeça de um norueguês que, secretamente, inverteu o sonho de sua vida em 180° e, com uma ousadia napoleônica, mudou seu objetivo do pólo norte para o pólo sul. A ultima notícia que o mundo recebeu do Fram, durante dois anos seguintes, foi um enigmático telegrama dirigido a Scott: “I’m going south. Amundsen.”
A diferença entre a expedição inglesa e a norueguesa é a mesma que há entre gramática e poesia, pois não há outra forma de definir as linhas da viagem dos homens do Fram.
Amundsen partiu à meia noite de 07 de junho de 1910, sem despedidas. Seus homens julgando se dirigirem rumo ao Pacifico Norte e Ártico. Não havia multidões acenando, comemorações ou discursos enaltecendo a gloria, a coragem e a bravura daqueles homens. O pequeno navio partiu discreto e seguro como o espírito de quem o comandava, ou o espírito norueguês traduzido por Ibsen: “Whatever you are be out and out. Not divided or in doubt”.
Muito diferente, a partida do Terra Nova. As festas de despedida da imponente expedição antártica britânica começaram quinze dias antes de sua efetiva e derradeira partida, em 15 de junho do mesmo ano (...) A cada escala da partida, descendo o Tâmisa, multidões ovacionando, discursos e manchetes enaltecendo a glória do império britânico.
(...) Uma citação de Tennyson, em Ulisses e não por acaso usada por Nansen, agora embaixador norueguês em Londres, ao se referir ao feito de seu compatriota, Amundsen, a bordo do Gjoa: “We are not now that strength which we are, we are,/ na equal temper of heroic hearts/ made weak by time and fate, but strong in will/ to strive, to seek, to find, na not yield”.
O trágico resultado da corrida que se iniciou (...) em tudo poderia ser previsto. Não havia dúvida sobre a utilização de esquis e cachorros no então desconhecido continente. Desde o século anterior, os noruegueses sabiam disso. Nansen, dias antes da partida de Scott, insistiu nisso. A arrogância da superioridade britânica e a incapacidade de estudar detalhes e aprender com os outros foram a razão do trágico fracasso de Scott. Por isso, e por algumas centenas de pequenos cuidados, a viagem de Amundsen no Fram e a conquista final do pólo sul foram muito mais do que uma obra-prima de talento, humildade e planejamento. Foi a mais bela poesia de aventura humana que conheço”.

Amyr Klink, Paratii entre dois pólos, editora Companhia das Letras, págs. 91 a 95, 1992.

Uma criança nasce. Mais uma criança nasce. Um blog nasce. Mais um... Entre tantos outros, mais um...
Segundo alguns cientistas sociais de algumas décadas atrás, somos todos iguais. Pensadores contemporâneos afirmam: “Um erro!” A filosofia se gaba por negar uma afirmação fazendo outra, de que todos, todos somos diferentes. Irmãos gêmeos, aparentemente iguais (mesmo dna), são diferentes.
Pegamos os mesmos ônibus, mantemos os mesmos hábitos, sentamos em frente aos computadores para tocar nossos projetos, lemos os mesmos jornais, nos trancamos dentro de nossas casas na ilusão de que somos indivíduos, quando na verdade somos individualistas.

O que te faz diferente dos outros?

Neste natal lembrei da Flora. Em 2003, passamos juntos toda essa época das férias: natal, ano novo, carnaval... Alguns fatos me fizeram lembrar de momentos muito felizes que passamos juntos. Um deles foi o filtro solar.

FILTRO SOLAR
Estávamos eu, Flora, sua mãe, seu pai, Zen (que dias depois morreria picado por uma cobra) e sua nova namorada na sala de estar da casa provisória, na Floresta da Tijuca, pois a oficial, na Gávea, estava reformando; quando chega Isabel (irmã da Flora) e o marido dela. Pedro se apressou em colocar para tocar o novo cd que produziram, chamado Filtro Solar. A primeira faixa dava nome ao cd, era ele narrando um texto e uma música chamada ________. Eram ____ minutos de música. _______ em que tive que prender o choro, uma cena quase patética que ninguém percebeu. A “música” fez todo o sentido para mim.
Este ano comprei um livrinho com o texto do Filtro Solar e dei de presente ao Saulo, que por coincidência, no dia anterior, ouvira também a música, e que se apressou para baixar na internet todas as versões de músicas e de clipes que ficamos ouvindo pelo resto da noite.

Mas do que lembrar da Flora e do nosso relacionamento – que foi muito importante para nós - fiz a eterna constatação dos finais de ano: o tempo esta passando. Eu não sei porque, mas pensar nisso me da uma tristeza grande. Uma tristeza de saber que algumas coisas não vão voltar, que passou, que não da pra voltar atrás no passado. Agora estou rumo aos trinta. Caralho, uma vontade de voltar a ser criança, saudosismo aos vinte...

Estou sozinho, um sabiá esta bebendo a água do beija-flor (isso tem acontecido desde que coloquei este bebedouro) e a árvore de natal ainda não foi recolhida. Jornais espalhados pelo chão (obras na casa) acabaram de me fazer perceber que ultimamente tenho lido, no chão, noticias antigas que já foram, assim como o tempo, assim como a vida...

Assim como Amundsen enfrentamos os maiores desafios de nossas vidas todos os dias.


Este blog provavelmente vai misturar registros de acontecimentos reais com um pouco de ficção, a realidade às vezes é um chata demais... Isso, real e ficção, para confundir um pouco. Talvez dure um dia, talvez não, talvez divulgue só para alguns amigos, talvez não... Respeite os mais velhos. Ame seu pai e sua mãe, um dia eles vão embora...
E nunca se esqueça: USE SEMPRE O FILTRO SOLAR!

“Esta semana uma questão me deixou um tanto confuso. Qual seria a natureza do Homem? Segundo João, o egoísmo. Para Pedro, reprodução. Fernanda diz sobre o aprendizado e discorda de João.
Também de João discorda Pedro, porém o altruísmo - diz ele - “tenho certeza que não é”. Pedro cursa medicina, mas não sabe se quer trabalhar com isso. João é dado às artes, mas duvida de seu talento. Fernanda não tinha certeza do que queria estudar, o tempo passou, é dona de casa. Cheguei onde queria. Caracteres diversos.
Em comum, a incerteza. De onde vim? Pra onde vamos? Que roupa uso na festa da Flora?
Nascemos, vivemos e a única certeza, além desta frase ser
Batida, é de que iremos morrer incertos”.

Remo Trajano, 2004.
www.blogpobre.blogspot.com

6 comentários:

  1. Observar as rugas, as infiltraçoes nas paredes, as rachaduras nas máscaras, o sorriso sem graça diante do acaso, da fotografia amarelada... o desafio é olhar para o caos e se entender enquanto caos. Enquanto algo de muito concreto que desconstrói e constrói, a todo momento. Pólo sul - Pólo norte. Astear bandeiras em solo firme não significa nada. Só existe a incerteza movediça.
    Quanto a juventude... nao quero ter filhos. Nao existe nada mais triste q a mulher grávida.
    Ps.: raoni, vc é terrivel...
    REY

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  2. Observar as rugas, as infiltraçoes nas paredes, as rachaduras nas máscaras, o sorriso sem graça diante do acaso, da fotografia amarelada... o desafio é olhar para o caos e se entender enquanto caos. Enquanto algo de muito concreto que desconstrói e constrói, a todo momento. Pólo sul - Pólo norte. Astear bandeiras em solo firme não significa nada. Só existe a incerteza movediça.
    Quanto a juventude... nao quero ter filhos. Nao existe nada mais triste q a mulher grávida.
    Ps.: raoni, vc é terrivel...
    REY

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  3. Observar as rugas, as infiltraçoes nas paredes, as rachaduras nas máscaras, o sorriso sem graça diante do acaso, da fotografia amarelada... o desafio é olhar para o caos e se entender enquanto caos. Enquanto algo de muito concreto que desconstrói e constrói, a todo momento. Pólo sul - Pólo norte. Astear bandeiras em solo firme não significa nada. Só existe a incerteza movediça.
    Quanto a juventude... nao quero ter filhos. Nao existe nada mais triste q a mulher grávida.
    Ps.: raoni, vc é terrivel...
    REY

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  4. c'est la vie - say the old folks, it goes to show you'll never can tell.

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  5. Quero-te muito bem, ó meu comparsa
    Nas doudas cenas de meu drama obscuro!
    E num dia de spleen, vindo a pachorra, Hei de evocar-te dum poema heróico
    Na rima de Camões e de Ariosto,
    Como padrão às lâmpadas futuras!

    ÁLVARES DE AZEVDO = Anna Beatriz

    Uma vez que cada época possui seus modelos de reprodução da realidade, a COMPANHIANOMALA DE TEATRO procurou praticar o desvio como princípio estético para a criação do trabalho atorial a partir de sua pertinência histórica: a questão do alheamento.

    Quisemos fazer da alienação histórica, a que se refere Silviano Santiago, poética cênica construída por força de uma experimentação direta entre artistas e público: a verdade ficcional existe apenas em relação a, como jogo teatral.

    Salve!!!

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  6. Desbravar a si mesmo: uma grande aventura.

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